O CONSOLADOR
Francisco C. Xavier pelo espírito Emmanuel
Capítulo II – Sentimento
ARTE
161 –Que é arte?
-A arte pura é a mais elevada contemplação espiritual por parte das criaturas. Ela significa a mais profunda exteriorização do ideal, a divina manifestação desse “mais além” que polariza as esperanças da alma. O artista verdadeiro é sempre o “médium” das belezas eternas e o seu trabalho, em todos os tempos, foi tanger as cordas mais vibráteis do sentimento humano, alçando-o da Terra para o Infinito e abrindo, em todos os caminhos a ânsia dos corações para Deus, nas suas manifestações supremas de beleza, de sabedoria, de paz e de amor.
162 –Todo artista pode ser também um missionário de Deus?
-Os artistas, como os chamados sábios do mundo, podem enveredar, igualmente, pelas cristalizações do convencionalismo terrestre, quando nos seus corações não palpite a chama dos ideais divinos, mas, na maioria das vezes, têm sido grandes missionários das idéias, sob a égide do Senhor, em todos os departamentos da atividade que lhes é próprios, como a literatura, a música, a pintura, a plástica. Sempre que a sua arte se desvencilha dos interesses do mundo, transitórios e perecíveis, para considerar tão-somente a luz espiritual que vem do coração uníssono como cérebro, nas realizações da vida, então o artista é um dos mais devotados missionários de Deus, porquanto saberá penetrar os corações na paz da meditação e do silêncio, alcançando o mais alto sentido da evolução de si mesmo e de seus irmãos em humanidade.
163 –Pode alguém se fazer artista tão-só pela educação especializada em uma existência?
-A perfeição técnica, individual de um artista, bem como as suas mais notáveis características, não constituem a resultantes das atividades de uma vida, mas de experiências seculares na Terra e na esfera espiritual, porquanto o gênio, em qualquer sentido, nas manifestações artísticas mais diversas, é a síntese profunda de vidas numerosas, em que a perseverança e o esforço se casaram para as mais brilhantes florações da espontaneidade.
164 –Como devemos compreender o gênio?
– O gênio constitui a súmula dos mais longos esforços em múltiplas existências de abnegação e de trabalho, na conquista dos valores espirituais. Entendendo a vida pelo seu prisma real, muita vez desatende ao círculo estreito da vida terrestre, no que se refere às suas fórmulas convencionais e aos seus preconceitos, tornando-se um estranho ao seu próprio meio, por suas qualidades superiores e inconfundíveis. Esse é o motivo por que a ciência terrestre, encarcerada nos cânones do convencionalismo, presume observar no gênio uma psicose condenável, tratando-o, quase sempre, como a célula enferma do organismo social, para glorifica-lo, muitas vezes, depois da morte, tão logo possa aprender a grandeza da sua visão espiritual na paisagem do futuro.
165 –Como poderemos entender o psiquismo dos artistas, tão diferente do que caracteriza o homem comum?
– O artista, de um modo geral, vive quase sempre mais na esfera espiritual que propriamente no plano terrestre. Seu psiquismo é sempre a resultante do seu mundo íntimo, cheio de recordações infinitas das existências passadas, ou das visões sublimes que conseguiu apreender nos círculos de vida espiritual, antes da sua reencarnação no mundo.
Seus sentimentos e percepções transcendem aos do homem comum, pela sua riqueza de experiências no pretérito, situação essa que, por vezes, dá motivos à falsa apreciação da ciência humana, que lhe classifica os transportes como neurose ou anormalidade, nos seus erros de interpretação. É que, em vista da sua posição psíquica especial, o artista nunca cede às exigências do convencionalismo do planeta, mantendo-se acima dos preconceitos contemporâneos, salientando-se que, muita vez, na demasia de inconsiderações pela disciplina, apesar de suas qualidades superiores, pode entregar-se aos excessos nocivos à liberdade, quando mal dirigida ou falsamente aproveitada. Eis por que, em todas as situações, o ideal divino da fé será sempre o antídoto dos venenos morais, desobstruindo o caminho da alma para as conquistas elevadas da perfeição.
166 –No caso dos artistas que triunfaram sem qualquer amparo do mundo e se fizeram notáveis tão-só pelos valores da sua vocação, traduzem suas obras alguma recordação da vida no Infinito?
-As grandes obras-primas da arte, na maioria das vezes, significam a concretização dessas lembranças profundas. Todavia, nem sempre constituem um traço das belezas entrevistas no Além pela mentalidade que as concebeu, e sim recordações de existências anteriores, entre as lutas e as lágrimas da Terra.
Certos pintores notáveis, que se fizeram admirados por obras levadas a efeito sem os modelos humanos, trouxeram à luz nada mais nada menos que as suas próprias recordações perdidas no tempo, na sombra apagada da paisagem de vidas que se foram. Relativamente aos escritores, aos amigos da ficção literária, nem sempre as suas concepções obedecem à fantasia, porquanto são filhas de lembranças inatas, com as quais recompõem o drama vivido pela sua própria individualidade nos séculos mortos.
O mundo impressivo dos artistas tem permanentes relações com o passado espiritual, de onde os extraem o material necessário à construção espiritual de suas obras.
167 –O grandes músicos, quando compõem peças imortais, podem ser também influenciados por lembranças de uma existência anterior?
-Essa atuação pode verificar-se no que se refere às possibilidades e às tendências, mas, no capítulo da composição, os grandes músicos da Terra, com méritos universais, não obedecem a lembranças do pretérito, e sim a gloriosos impulsos das forças do Infinito, porquanto a música na Terra é, por excelência, a arte divina. As óperas imortais não nasceram do lodo terrestre, mas da profunda harmonia do Universo, cujos cânticos sublimes foram captados parcialmente pelos compositores do mundo, em momentos de santificada inspiração. Apenas desse modo podereis compreender a sagrada influência que a música nobre opera nas almas, arrebatando-as, em quaisquer ocasiões, às ideias indecisas da Terra, para as vibrações do íntimo com o Infinito.
168 –Os Espíritos desencarnados cuidam igualmente dos valores artísticos no plano invisível para os homens?
-Temos de convir que todas as expressões de arte na Terra representam traços de espiritualidade, muitas vezes estranhos à vida do planeta. Através dessa realidade, podereis reconhecer que a arte, em qualquer de suas formas puras, constitui objeto da atenção carinhosa dos invisíveis, com possibilidades outras que o artista do mundo está muito longe de imaginar. No Além, é com o seu concurso que se reformam os sentimentos mais impiedosos, predispondo as entidades infelizes às experiências expiatórias e purificadoras. E é crescendo nos seus domínios de perfeição e de beleza que a alma envolve para Deus, enriquecendo-se nas suas sublimes maravilhas.
169 –A emotividade deve ser disciplinada?
-Qualquer expressão emotiva deve ser disciplinada pela fé, porquanto a sua expansão livre, na base das incompreensões do mundo, pode fazer-se acompanhar de graves consequências.
170 –Com tantas qualidades superiores para o bem, pode o artista de gênio transformar-se em instrumento do mal?
-O homem genial é como a inteligência que houvesse atingido as mais perfeitas condições de técnica realizadora; essa aquisição, porém, não o exime da necessidade de progredir moralmente, iluminando a fonte do coração.
Em vista de numerosas organizações geniais, não haverem alcançado a culminância de sentimento é que temos contemplado, muitas vezes, no mundo, os talentos mais nobres encarcerados em tremendas obsessões, ou anulados em desvios dolorosos, porquanto, acima de todas as conquistas propriamente materiais, a criatura deve colocar a fé, como o eterno ideal divino.
171 –De modo geral, todos os homens terão de buscar os valores artísticos para a personalidade?
-Sim; através de suas vidas numerosas a alma humana buscará a aquisição desses patrimônios, porquanto é justo que as criaturas terrenas possam levar da sua escola de provações e de burilamento, que é o planeta, todas as experiências e valores, suscetíveis de serem encontrados nas lutas da esfera material.
172 –Existem, de fato, uma arte antiga e uma arte moderna?
-A arte envolve com os homens e, representando a contemplação espiritual de quantos a exteriorizam, será sempre a manifestação da beleza eterna, condicionada ao tempo e ao meio de seus expositores.
A arte, pois, será sempre uma só, na sua riqueza de motivos, dentro da espiritualidade infinita.
Ponderemos, contudo, que, se existe hoje grande número de talentos com a preocupação excessiva de originalidade, dando curso às expressões mais extravagantes de primitivismo, esses são os cortejadores irrequietos da glória mundana que, mais distanciados da arte legítima, nada mais conseguem que refletir a perturbação dos tempos que passam, apoiando o domínio transitório da futilidade e da força. Eles, porém. Passarão como passam todas as situações incertas de um cataclismo, como zangões da sagrada colméia da beleza divina, que, em vez de espiritualizarem a Natureza, buscam deprimi-la com as suas concepções extravagantes e doentias.
NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE
Francisco C. Xavier pelo espírito André Luiz
Capítulo 30 – Últimas Páginas
Ante o Sol renascente, o campo terrestre brilhava em plena manhã clara. Mudos e expectantes, renteamos com um homem do campo manobrando a enxada na defesa do solo.
Áulus apontou-o com a destra e rompeu o silêncio, murmurando:
– Vejam! A mediunidade como instrumentação da vida surge em toda a parte. O lavrador é o médium da colheita, a planta é o médium da frutificação e a flor é o médium do perfume. Em todos os lugares, damos e recebemos, filtrando os recursos que nos cercam e moldando-lhes a manifestação, segundo as nossas possibilidades.
Avançávamos e, em breves momentos, víamo-nos defrontados por singela oficina de carpinteiro. Nosso orientador indicou o operário que aplainava enorme peça e observou:
– Possuímos no artífice o médium de preciosas utilidades. Da devoção com que se consagra ao trabalho, nasce elevada percentagem de reconforto à Civilização.
Não longe, surpreendemos pequena marmoraria, à porta da qual um jovem envergava o escopro, ferindo a pedra.
– Eis o escultor – disse Áulus –, o médium da obra-prima. A Arte é a mediunidade do Belo, em cujas realizações encontramos as sublimes visões do futuro que nos é reservado.
CADERNOS DE ARTE DA ABRARTE
A contribuição da arte espírita para a sociedade
A arte é a máxima possibilidade de expressão do espírito. Podemos aferir o nível de evolução humana, de uma época ou de uma civilização, através da arte, uma vez que esta é o materializar do conjunto de crenças (morais e espirituais) predominantes em uma sociedade. Isto explica, segundo Kardec, a decadência das artes na atualidade.
A decadência das artes, neste século, resultou inevitavelmente da concentração dos pensamentos sobre as coisas materiais, concentração essa que, a seu turno, é o resultado da ausência de toda crença, de toda fé na espiritualidade do ser.(Kardec,1977:157).
Temos, portanto, nas artes um termômetro do pensamento coletivo humano. Por outro lado o caminho inverso também é possível, ou seja, através das artes criar novos referenciais, novas idéias, realizar uma revelação divina. Emmanuel nos confirma essa possibilidade:
Os artistas, como os chamados sábios do mundo, podem enveredar, igualmente, pelas cristalizações do convencionalismo terrestre, quando nos seus corações não palpite a chama dos ideais divinos, mas, na maioria das vezes, têm sido grandes missionários das ideias, sob a égide do Senhor, em todos os departamentos da atividade que lhe é própria, como a literatura, a música, a pintura, a plástica. (Emmanuel,1980:101)
Nós espíritas sabemos que o espiritismo contribui para o progresso da humanidade na medida que destrói o materialismo, uma das chagas da sociedade, e faz o homem compreender que seus verdadeiros interesses residem na sua natureza espiritual, conforme questão 799 de O Livro dos Espíritos. Apresentar e fazer compreender esta realidade à sociedade não é um trabalho fácil, e, tão pouco rápido.
Muitas almas estão prontas para receber, em sua intimidade, as verdades universais apresentadas pelo espiritismo, mas, infelizmente, estas informações ainda não chegam a todos os que necessitam, estejam eles dentro de nossa cidade, estado ou outro país.
É necessário ter uma visão macro desse processo e tomar consciência que para implementar uma nova cultura (espiritual), na civilização, esta necessita ser trabalhada nas várias frentes da organização social e expressão humana, tais como: educação, religião, família, governo, mídias e artes. Neste contexto, podemos verificar a grande contribuição da arte espírita para a sociedade. Através dela é possível apresentar as novas verdades, já reveladas aos homens, pelos prepostos de Deus. Estas verdades encontram-se sintetizadas nos princípios da Doutrina Espírita: Deus, Jesus (e sua mensagem), espírito, perispírito, evolução, livre arbítrio, causa e efeito, reencarnação, pluralidade dos mundos habitados, imortalidade da alma, vida futura, plano espiritual, mediunidade, influência dos espíritos na nossa vida, ação dos espíritos na natureza.
Todos estes temas são inesgotáveis fontes de inspiração e pesquisa para o artista espírita e, logicamente, fontes de esperança e consolação para uma humanidade carente de valores superiores.
O artista embeleza o caminho da inteligência acordando o coração para as mensagens edificantes que o mundo encerra em seu conteúdo de espiritualidade. (Emmanuel, 2000:132)
O desafio da arte espírita, dentro do contexto social, será fazer da realidade atual o ponto de partida, e não o contrário, ponto de chegada. Explico melhor. Temos a tendência de “adequar” as belezas divinas e as verdades universais para dentro de clichês artísticos já conhecidos. Isso se dá devido a tradição cultural, repetindo velhas fórmulas ou técnicas, na pintura, na música, no teatro, na dança, etc. Com isso, acabamos engessando o novo dentro de uma arte do passado. Deveremos construir uma arte do presente para o futuro, quebrando “as algemas do passado”. Ao invés de criarmos um rock espírita, dançarmos um RAP espírita, encenarmos um drama espírita, que tal conduzir o expectador ao “êxtase supradimensional” através de um novo estilo musical, ao “vôo interior da alma” através de uma nova dança, ao “replanejamento de vida” através de uma nova forma de interpretar e interagir com o publico no teatro, ao “encontro consigo mesmo” através do simbólico de uma nova pintura? Tudo isso para possibilitar a mais perfeita expressão do belo, do são, do bom, do bem, do amor, da caridade, do perdão, da humildade, da simplicidade, etc, através das artes.
Quando nos possibilitamos este olhar fica mais fácil entender a expressão: “As artes não sairão do torpor em que jazem, senão por meio de uma reação no sentido das ideias espiritualistas.” (Kardec,1977:157)
A arte espírita é, para a sociedade, educadora: esclarece, ensina, distrai (distração sã), consola e ilumina. A arte espírita é descida dos planos superiores para nos conduzir até Deus. Ela deverá ser sempre instrumento de ascensão espiritual para a sociedade!
Cláudio Marins
Referências Bibliográficas:
KARDEC, Allan. Obras Póstumas (Euvres Posthumes). Tradução de Guillon Ribeiro. 16a ed. Rio de Janeiro: FEB, 1977.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos (LE LIVRE DES ESPRITS). Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Brasília: FEB, 2007.
XAVIER, Francisco Cândido (Médium) e EMMANUEL (Espírito). Fonte Viva. 24a ed. Brasília: FEB, 2000.
XAVIER, Francisco Cândido (Médium) e EMMANUEL (Espírito). O consolador. 8a ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980.
UBALDI, Pietro. A Grande Síntese: Síntese e Solução dos Problemas da Ciência e do Espírito. Tradução de Mário Corboli.10a ed. São Paulo: Lake, 1976.
KANDINSKY, Wassily. Do espiritual na arte e na pintura em particular (DUSPIRITUAL DANS L’ART). Tradução de Álaro Cabral e Antonio de Pádua Danesi. 2a ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
ATUALIDADE DO PENSAMENTO ESPÍRITA
Divaldo Franco, pelo espírito Vianna de Carvalho
Psicologia da Arte
Questão 148
O legítimo portador da beleza caracteriza-se pelo conteúdo da mensagem que expressa, enriquecendo a Humanidade com paz, com inspiração e engrandecimento moral, fazendo que, através da sua manifestação de arte, as pessoas se encontrem e confraternizem, respeitando-se umas às outras, sem os apelos às paixões perturbadoras que induzem à violência, ao sexo desvairado, aos tormentos que desgovernam as emoções com predominância das sensações.
O artista real é missionário de Deus como co-criador junto à Humanidade. A sua contribuição permanece edificando, mesmo quando ele morre, e não raro, pela qualidade e profundidade do conteúdo da sua inspiração, que antecipa o futuro, não é reconhecido como gênio, senão depois da morte.
Vianna de Carvalho