O LIVRO DOS ESPÍRITOS
Allan Kardec
Parte Segunda – Cap. IV
Da pluralidade das Existências – Ideias inatas.
Questão 220 – Ao mudar de corpo, podem-se perder alguns talentos intelectuais, não mais ter, por exemplo, o gosto pelas artes?
– Sim, se desonrou esse talento ou se fez dele um mau uso. Uma capacidade intelectual pode, além do mais, permanecer adormecida numa existência, porque o Espírito veio para exercitar uma outra que não tem relação com ela. Então, qualquer talento pode permanecer em estado latente para ressurgir mais tarde.
Parte Segunda – Cap. VI
Da Vida Espírita – Percepções, Sensações e Sofrimento dos Espíritos.
Questão 251 – Os Espíritos são sensíveis à música?
– Quereis falar de vossa música? O que é ela perante a música celeste cuja harmonia nada na Terra vos pode dar uma ideia? Uma está para a outra como o canto de um selvagem está para uma suave melodia. Entretanto, Espíritos vulgares podem sentir um certo prazer ao ouvir vossa música, porque ainda não são capazes de compreender uma mais sublime. A música tem para os Espíritos encantos infinitos, em razão de suas qualidades sensitivas bastante desenvolvidas. A música celeste é tudo o que a imaginação espiritual pode conceber de mais belo e mais suave.
Parte Segunda – Cap. VI
Da Vida Espírita – Recordações da Existência Corporal.
Questão 315 – Aquele que abandonou trabalhos de arte ou de literatura conserva por suas obras o amor que lhes tinha quando era vivo?
– De acordo com sua elevação, julga-os sob um outro ponto de vista e, frequentemente, se arrepende de coisas que admirava antes.
Questão 316 – O Espírito se interessa pelos trabalhos que se executam na Terra pelo progresso das artes e das ciências?
– Isso depende de sua elevação ou da missão que deve desempenhar. O que vos parece magnífico é, muitas vezes, pouca coisa para certos Espíritos, que a consideram como um sábio vê a obra de um estudante. Eles têm consideração pelo que pode contribuir para a elevação dos Espíritos encarnados e seus progressos.
Parte Segunda – Cap. IX
Da Intervenção dos Espíritos no Mundo Corporal – Anjos de Guarda.
Espíritos Familiares, Protetores ou Simpáticos.
Questão 521 – Certos Espíritos podem ajudar no progresso das artes ao proteger aqueles que se ocupam delas?
– Há Espíritos protetores especiais que assistem aos que os invocam quando os julgam dignos. Porém, não deveis acreditar que consigam fazer com que os indivíduos sejam aquilo que não são. Eles não fazem os cegos enxergarem, nem os surdos ouvirem. Os antigos fizeram desses Espíritos divindades especiais. As Musas eram a personificação alegórica dos Espíritos protetores das ciências e das artes, como designavam sob o nome de Lares e Penates os Espíritos protetores da família.
Modernamente, também, as artes, as diferentes indústrias, as cidades, os continentes têm seus patronos protetores, Espíritos Superiores, mas sob outros nomes. Cada homem tem Espíritos que lhe são simpáticos, e resulta disso que, em todas as coletividades, a generalidade dos Espíritos simpáticos está em relação com a generalidade dos indivíduos; que os Espíritos de costumes e procedimentos estranhos são atraídos para essas coletividades pela identidade dos gostos e dos pensamentos; em uma palavra, que essas multidões de pessoas, assim como os indivíduos, são mais ou menos bem assistidos e influenciados conforme a natureza dos pensamentos dos que os compõem.
Entre os povos, as causas de atração dos Espíritos são os costumes, os hábitos, o caráter dominante e principalmente as leis, porque o caráter de uma nação se reflete em suas leis. Os homens que fazem reinar a justiça entre si combatem a influência dos maus Espíritos. Em toda parte onde as leis consagram injustiças, contrárias à humanidade, os bons Espíritos estão em minoria e a massa dos maus se reúne e mantém a nação sob o domínio das suas ideias e paralisa as boas influências parciais que ficam perdidas na multidão, como uma espiga isolada no meio dos espinheiros. Ao estudar os costumes dos povos ou de qualquer reunião de homens, é fácil, portanto, fazer uma ideia da população oculta que se infiltra em seus pensamentos e em suas ações.
Parte Segunda – Cap. X
Ocupações e Missões dos Espíritos.
Questão 565 – Os Espíritos examinam nossos trabalhos de arte e se interessam por eles?
– Examinam o que possa provar a elevação dos Espíritos e seu progresso.
Questão 566 – Um Espírito que teve uma especialidade na Terra, um pintor, um arquiteto, por exemplo, se interessa pelos trabalhos de sua predileção durante a vida?
– Tudo se confunde num objetivo geral. Sendo bom, se interessa tanto quanto lhe é permitido se ocupar em ajudar as almas a se elevarem até Deus. Esqueceis, aliás, que um Espírito que praticou uma arte na existência em que o conhecestes pode ter praticado uma outra em anterior existência, porque é preciso que saiba tudo para ser perfeito. Assim, conforme o grau de seu adiantamento, pode não haver mais especialidade para ele; é o que quis dizer, afirmando que tudo se confunde em um objetivo geral.
Notai ainda isso: o que é sublime para vosso mundo atrasado é apenas criancice nos mundos mais avançados. Como quereis que os Espíritos que habitam esses mundos onde existem artes desconhecidas para vós admirem o que para eles é somente obra de um estudante? É como vos disse: eles se interessam por tudo que pode revelar o progresso.